sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008

D. Carlos I: frascos e caixas de charutos


Sobre «Rei Dom Carlos. Campanhas Oceanográficas», de Cândida Macedo
Publicado em «O Independente», 21 Março 1997

Severamente fustigado por jacobinos e republicanos tresloucados, de Leal da Câmara e Gomes Leal ao Costa do regicídio, entre muitos, o rei D. Carlos [1863-1908] está a ser objecto de um nítido processo de identificação (depois do ornitólogo, o pintor, hoje o oceanógrafo e em breve o diplomata) que o transporta para o justo reconhecimento da sua personalidade política e artística.
Com o muito simpático patrocínio da Shell Portuguesa, este álbum da Inapa dá-nos conta das suas pesquisas oceanográficas a bordo das quatro versões do iate «Amélia», entre 1896 e 1907, com as quais quis realizar «o estudo metódico e comprovado do mar que bate as nossas costas». Influenciado pelo príncipe e amigo Alberto do Mónaco, apoiado no naturalista nova-iorquino Albert Girard, que com ele deambulou entre Cascais, Tróia e a ria de Faro, o Rei realizou precursores levantamentos zoológicos e macalógicos, que com especial diligência fez expor cá e lá fora e publicar em catálogos. Além de centenas de frascos dos mais variados conteúdos e dimensões, guardou algumas conchas em caixas dos seus inseparáveis charutos e fez empalhar aves e peixes, um espólio que a república com fúria inconoclástica destroçou e reduziu, como Girard denunciaria depois, mas hoje é silenciado.
Versão impressa do que podemos ver no museu do Dafundo, a edição é enfraquecida pelo paupérrimo grafismo do sr. João Paulo Abreu e Lima, cego aos progressos técnicos das artes gráficas actuais, e que nos rouba o prazer de admirar em casa a beleza de «Crassostrea angulata», «Chlamys glaber», «Fusinus rostratus», «Epitoonium clatbru» e «Chaetoplenura angulata».

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